terça-feira, 28 de junho de 2016

Como ficam as NTN-Bs em caso de hiperinflação?

         Esses dias eu estava conversando com um colega do trabalho sobre investimentos, quando ele me questionou se, no caso de uma hiperinflação, toda a teoria do "ganhar juros reais" não iria por água abaixo.

         A lógica dele foi a seguinte: se você tem uma NTN-B que paga IPCA + 3% e o IPCA for de 100% num ano, você tem um rendimento total de aproximadamente 103% bruto, descontando o IR seria algo próximo de 87%, então se compararmos com a inflação, você perdeu feio.

         Então resolvi colocar essas contas na prática pra analisar a parte matemática da coisa.

         Fiz algumas simulações e sim, é possível você perder da inflação mesmo tendo uma NTN-B que te promete juros reais.

         Mas você também pode ganhar da inflação com esse título. Tudo depende da taxa que você adquiriu.

         Pelos meus cálculos (premissas: 5 anos de prazo e IR de 15% e claro, utilizando juros compostos), chega-se a um ponto de equilíbrio quando a taxa da NTN-B é de 3,304%. Ou seja, se você conseguir essa taxa, você nunca vai perder da inflação e vai ter juros reais em qualquer cenário, para o prazo mínimo de 5 anos.

         Sim, em qualquer cenário, pois testei inflações desde 0% a.a. até milhões% a.a. e o que percebi foi que, numa inflação anual a partir de 300% as diferenças são mínimas, ou seja, 400% ou 10.000.000% gerarão juros reais praticamente iguais.

         Indo para a parte chata, a conta seria:

Rendimento líquido = ((1+3,304%)ˆ5 * (1+inflação anual)ˆ5 - 1) * 0,85

Juro real = (1+ Rendimento líquido) / (1+inflação anual)ˆ5

         Enfim, é apenas um exercício de pura teoria, fruto de uma conversa do dia a dia, visto que as chances de voltarmos a ter hiperinflação são bem pequenas.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

O êxodo dos brasileiros


            Hoje fiquei sabendo de mais um amigo que está indo tentar a vida fora do país. Aqui na blogosfera temos o exemplo do nosso colega Conhecimento Financeiro, que recentemente abriu que foi para Portugal.
            Esse é o 3º conhecido meu que vai pro exterior, e o que mais me preocupa é que os 3 possuem ensino superior, um deles estava desempregado e os outros 2 muito bem empregados, um deles inclusive, eu estimo que ganhava mais de R$10 mil/mês.
            Ou seja, mão de obra qualificada que está deixando nosso país. Pessoas que mantém as condições para negócios mais complexos prosperarem. E não são apenas empregados não, diversos empresários estão seguindo o mesmo caminho.
            Sugiro que vocês leiam essa reportagem, interessantíssima e de onde peguei o título do post, sobre esse tema:

http://istoe.com.br/433226_O+EXODO+DOS+BRASILEIROS/

            Segundo a reportagem, além da crise que vivemos, outro motivo dessa saída generalizada é a corrupção, que vemos, dia após dia, estar instaurada em todos os níveis da sociedade, prejudicando toda a estrutura do nosso país.
            Além desses 2 motivos, eu enumeraria ainda:
  •   Segurança - aqui nem preciso comentar muita coisa, 25 traficantes invadindo o hospital central de uma cidade que daqui 5 semanas estará recebendo as Olimpíadas basta.

  • Desemprego - atingindo especialmente os mais jovens, que se formam na faculdade sem perspectiva nenhuma de conseguir um trabalho. 

  •  Burocracia e Leis Arcaicas - aqui daria um post próprio. Podemos comentar sobre a exigência absurda (suspensa apenas ano passado!) de extintores  em automóveis, que gerava um gasto totalmente desnecessário ao consumidor final, indo na contramão de países como Estados Unidos, Japão e Alemanha, que não exigem extintor.
              
    Podemos falar também sobre a obrigatoriedade de airbags frontais e ABS nos carros comercializados aqui, desde 2014 em vigor. Enquanto isso, airbags frontais são obrigatórios nos Estados Unidos desde 1989! Mas aí também já é covardia, pois os carros comercializados hoje lá, são obrigados a vir com controle de tração e estabilidade e airbags laterais e de cortina. E mais, daqui alguns anos virão também com frenagem de emergência autônoma.

            Enfim, é claro que o país vai se recuperar e eventualmente voltaremos a crescer, mas quantos anos essa crise não vai nos custar? Só para recuperar a queda do PIB em 2015 e 2016 (projetado 4% de queda novamente), analistas estimam de 4 a 6 anos. Ou seja, 4 a 6 anos para voltarmos no nível de 2014!! E isso sem contar perdas como as comentadas no início do post, de trabalhadores e empresários que agregam ao país, que geram valor, pagam impostos, consomem.
            Esse é o preço que pagamos por sermos um país cuja economia se baseia quase 100% em commodities e por termos uma mentalidade imediatista, pois, durante o ciclo de alta dos preços, quando o Brasil deveria estar poupando e/ou investindo em setores que geram maior valor agregado, foi feito exatamente o contrário, o país passou a gastar como nunca - e muito mal, e estamos pagando a conta hoje.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Erros cometidos nos investimentos

Aproveitando o gancho do nosso amigo Beto Fiscal, vou comentar neste post sobre 2 grandes perdas que eu tive e as lições que tirei delas:

1) O caso OGX

Não, eu não fui um dos investidores que comprou os projetos de Eike Batista e acreditava em tudo que ele falava, pelo contrário, sempre tive algumas suspeitas de que suas empresas não fossem pra frente, mas é claro que não esperava uma decorada como a que aconteceu.
Eu observava tanto a OGX quanto a MMX e via que ambas variavam muito, num dia -5%, no outro +6%, depois -4%, enfim, altíssima volatilidade, e vi nisso uma chance de ganhar dinheiro.
No começo é claro que deu certo, é sempre assim, comecei com pouco mais de R$8 mil e logo já estava operando com R$11 mil, apenas dos ganhos que obtive. Lembro que uma das operações me gerou 700 reais de lucro em 3 dias. Foi aí que eu coloquei a grana na OGX, esperando valorizar 2 ou 3% pra já vender de novo, mas uns dias depois de comprá-la, a cotação desabou.
Claro que eu me desesperei, nessa época R$11 mil eram uns 6 salários meus, mas não vendi, mantive as ações acreditando que elas fossem se valorizar novamente. Então até aqui já temos 3 erros cruciais: 1) operar com lixo (OGX sempre foi lixo); 2) não usar o stop loss e 3) manter uma ação perdedora e passar a ser um torcedor.
O quarto erro foi o que mais me marcou. Depois de afundar, a ação começou a se valorizar novamente, lembro que meu PM era de 8,XX e a ação chegou a bater 7,XX, mas eu não quis vendê-la, me recusava a realizar um prejuízo e aceitar que eu havia errado. Aí, é claro, a ação desabou de novo, dessa vez pra sempre...esperei 1 mês, 2 meses e nada...1 ano e nada, então, quando eu vi que estava mantendo uma posição em ações de 200 reais e pagando custódia de uns 10 reais, finalmente vendi tudo e realizei meu preju a 15 CENTAVOS POR AÇÃO!
Então meu grande erro aqui foi a ganância, 4) eu já havia recuperado grande parte do prejuízo, sairia com uns R$1.000 a menos de uma operação absolutamente desastrosa, o que seria uma baita vitória, mas eu a mantive e acabei perdendo 11 mil reais (8 mil que eu havia investido inicialmente). Nunca nem tive a coragem de colocar custo de oportunidade em cima desse valor, pra ver minha perda real.

                2) O caso XPCM

                Quando eu descobri os FIIs, achei que havia descoberto uma mina de ouro, imagina só, um fundo corrigido pela inflação e que ainda me daria um fluxo de renda mensal, ou seja, eu estaria ganhando 1% ao mês real, ou 13% ao ano + inflação! Não acreditei e busquei mais informações, logo vi alguns anúncios dizendo que o inquilo era a Petrobrás e que a multa para ela sair era pesadíssima.
                Pronto, na hora já dei uma ordem de compra de uns 20 mil reais nela. Aqui então já vai o erro 5) se deixar levar pela emoção e enfiar todos os ovos em uma só cesta.
                O que eu não havia pesquisado era que existem as revisionais, que é a possibilidade de tanto o locatário quanto a locadora pedirem a revisão dos valores 3 anos após a celebração do acordo de aluguel. Acontece que com a queda no preço do petróleo e toda a crise da Petrobrás, ela começou um forte programa de corte de custos, que implicou em um esvaziamento da cidade de Macaé e até mesmo na empresa sair de um dos prédios do qual era inquilina (o imóvel do XTED, que ainda está vago).
                Ou seja, hoje, o valor do aluguel celebrado em 2013, está totalmente superestimado, então por isso a queda acentuada na cotação desse papel: o mercado já está precificando uma revisional negativa na ordem de 30% do valor vigente.
                Então em relação ao que paguei, estou com uma perda de cerca de 30%, mas se eu somar os rendimentos recebidos no período (totalmente errado do ponto de vista financeiro, pois os rendimentos não valem a mesma coisa do que o que eu paguei no papel lá atrás), aí esse preju fica praticamente zerado.
                Enfim, em relação ao XPCM, ainda o tenho em carteira, pois ao meu ver, os rendimentos estão muito atrativos (quase 1,5% ao mês) e estou vislumbrando a possibilidade de a revisional ser menos danosa ao investidor do que se está imaginando, se o mercado precificou 30% e a revisional for de 20%, a cotação vai subir muito e sim, sei que o contrário também pode acontecer, porém estou apostando na necessidade de a Petrobrás ficar em Macaé (1300 funcionários no prédio feito especialmente para ela), até por causa da recente desocupação do XTED, conforme eu comentei acima.
                Se tudo der errado, ainda confio na multa que a Petrobrás teria que pagar, nesse caso, 3 meses de aluguel mais os valores ainda devidos de customização, o que daria uns R$14 por cota.


                Esses foram meus principais erros dentro do mundo dos investimentos. Na época me martirizei bastante, achei que o mundo fosse acabar e fiquei bem mal, porém, com o tempo percebe-se que tudo é experiência e aprendizado e com certeza eu levarei esses dois casos como exemplo pro resto da vida, não apenas no campo financeiro, mas no pessoal e profissional também.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

IPCA x IGPM

    Nesse post vou comentar sobre as diferenças entre IPCA e IGPM. Meu objetivo é mostrar qual dos 2 é melhor para você atrelar sua aplicação.



                Primeiramente, já existe um certo preconceito e uma máxima muito falada de que o IPCA, por ser um índice calculado pelo IBGE e o número oficial da inflação no Brasil, é objeto de maquiagem e alteração, visando esconder a inflação real, especialmente em momentos em que ela sobe bastante. Já o IGPM na prática deveria ser mais confiável e isento, já que é calculado por uma universidade conceituada, que é a FGV, e possui um longo histórico (é calculado desde 1989). Por essa confiança do mercado o IGPM é popularmente conhecido como a “inflação do aluguel”. Vamos ver se isso pode ser verdade.
                IPCA significa Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo e é calculado pelo IBGE desde 1979. Busca medir a inflação das pessoas com renda entre 1 e 40 salários mínimos e é calculado apenas em algumas regiões metropolitanas. É composto da seguinte forma:

Item
Peso
Alimentação
25,21%
Transportes e Comunicação
18,77%
Despesas Pessoais
15,68%
Vestuário
12,49%
Habitação
10,91%
Saúde e Cuidados Pessoais
8,85%
Artigos de Residência
8,09%

                Já o IGPM significa Índice Geral de Preços do Mercado e busca replicar a inflação para toda a população, sem níveis de renda. É composto por 3 índices, sendo essa a divisão:

Item
Peso
IPA
60%
IPC
30%
INCC
10%

                Apenas para conhecimento, segundo a FGV, o IPA, que possui o maior peso, “registra variações de preços de produtos agropecuários e industriais nas transações interempresariais, isto é, nos estágios de comercialização anteriores ao consumo final.”
                O que eu fiz foi compilar todos os dados de ambos os índices desde 1995 (a partir desse ano pois inflações de 10.000% não iriam ajudar essa análise em nada) para analisar e tirarmos algumas conclusões. Primeiramente o gráfico:




                Olhando o gráfico já podemos tirar 2 conclusões, 1) o IGPM sofre muito mais volatilidade, enquanto o IPCA é mais constante; e 2) ambos sempre seguem a mesma tendência.
                Dado isso, vou expor mais alguns dados obtidos com essa série histórica:

- Dos 23 anos que estamos analisando, o IPCA foi maior em 10 anos, enquanto o IGPM “ganhou” em 13 anos;
- A maior variação do IGPM foi de 25,3%, em 2002, e a menor -1,71%, em 2009;
- A maior variação do IPCA foi de 22,41%, em 1995, e a menor 1,65%, em 1998;
- O IGPM acumulado de 1995 até 2017 é de 511%;
- O IPCA acumulado entre os mesmos anos é de 383%.

Conclusão

                Essa dúvida me surgiu quando vi o mesmo banco oferecendo LCI a IGPM+6% e IPCA+5,9%, não entendi por que o título atrelado ao IPCA estava pagando um prêmio a menos, então decidi investigar se ele tende a render mais que o IGPM, mas a resposta é não: um título atrelado ao IGPM tende a render mais ao longo do tempo, pois, apesar de sofrer uma volatilidade bem maior, numa amostra de 23 anos rendeu 33% mais que algo atrelado ao IPCA.
                Importante observar também que se há alguma maquiagem no cálculo do IPCA, ela é bem sutil, pois ao longo dos anos ambos os índices se movem de forma semelhante, apesar da maior intensidade do IGPM. Por mais incrível que possa parecer, os números que mais se descolam não são durante o governo do PT.
                Ou seja, apenas aceite um título atrelado ao IPCA se este oferecer um prêmio de 1,5% ao ano a mais que o mesmo título atrelado ao IGPM, pois esta é a diferença entre as suas médias históricas.